sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Um escritor fascinante, um amontoado de paradoxos


John Grisham é um escritor fascinante, um amontoado de paradoxos. Seus livros vendem feito água. Têm boas intenções, botam o dedo nas feridas, expõem mazelas da sociedade americana e defendem valores bons, corretos.
Mas muito provavelmente nenhum crítico sério ou sumidade acadêmica dirá que têm grande qualidade literária.
Porém suas obras são extremamente agradáveis de se ler.
Todavia, uma delas, talvez a mais importante de todas, O Inocente, ao contrário dos outros, não é nada fácil; pesado, duro, denso, tem personagens demais, datas demais – contudo, é um brilho: obra de não-ficção, reconstitui com detalhes uma história real repleta de erros do Judiciário, da polícia, das várias instituições do Estado; é provavelmente um dos mais bem documentados trabalhos contra a pena de morte jamais feitos.
Mas, porém, todavia, contudo. Falar de Grisham é usar adversativas.  
Entre 1989 e 2010, ele publicou 25 livros. Média de mais de um por ano, portanto. (Aqui, uma tabela com os títulos e uma breve sinopse.) A imensa maioria deles, senão todos, leva na capa da edição de bolso americana a mesma o selo de garantia: “# 1 New York Times Bestseller”. Chegam ao topo da lista dos mais vendidos do Times já na edição capa dura – e, na edição de bolso, naturalmente, multiplicam-se muito mais as vendas.
Até 2008, seus livros haviam vendido um total de 250 milhões de exemplares no mundo inteiro, em 29 línguas. Nove filmes foram feitos com base em obras dele, em geral por diretores importantes, com atores de primeira.
O cara tem a força, tem o dom – ou, no mínimo, no mínimo, tem a fórmula.
Não é pouca coisa.
          Advertência: John Grisham vicia
Sou leitor de Grisham desde sempre; a rigor, pelo que vejo em velhas anotações, precisamente desde 1994, quando li, de uma enfiada, numas férias no Guarujá das quais nem me lembrava mais, O Dossiê PelicanoO Cliente. Agora há pouco li, também de uma enfiada, A Intimação eO Inocente. Mais um de seus típicos romances sobre o mundo da Justiça, dos advogados, dos processos, e o livro que é diferente de todos os outros, seu primeiro e único de não-ficção. E aí deu vontade de fazer uma anotação sobre esse autor intrigante, paradoxal, ao mesmo tempo menor e maior. Adversativo.
          28 editoras recusaram o primeiro livro de Grisham
Um dos casos mais saborosos da história dos Beatles é o do executivo da gravadora Decca. Lá por 1961, ou já em 1962 (preguiça de ir aos alfarrábios consultar os dados exatos), Brian Epstein levou os garotos para uma apresentação para o executivo da Decca encarregado de artists & repertoire – me lembro que o termo era este. O camarada encarregado de ouvir grupos novos e selecionar em quem a gravadora deveria ficar de olho, ou que seria bom contratar de cara. Tarefa duríssima, sei disso – separar o joio do trigo, procurar uma pequena pepita de ouro no meio de toda a areia do Saara, ouvir trocentos neguinhos horrorosos para talvez quem sabe achar um que leva jeito. Tarefa duríssima, claro, claro – mas o cara da Decca devia ser muito bem pago para isso, certo? Era o trabalho dele, a tarefa dele, a especialidade dele.
Leia mais em:     http://50anosdetextos.com.br/2011/um-escritor-fascinante-um-amontado-de-paradoxos/

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